Pular para o conteúdo principal

Maconha, porta de saída?, por Marcos Rolim*

Este artigo foi publicado na Zero Hora de domingo (1 de agosto 2010). Este assunto deve ser amplamente debatido sem preconceitos, segue o texto:

A epidemia de crack é um dos fenômenos mais sérios na interface entre saúde pública e segurança. O que a faz particularmente grave é a reconhecida dificuldade de superar a dependência química. Pois bem, a Universidade Federal de São Paulo realizou pesquisa com 50 dependentes químicos de crack que foram submetidos a um tratamento experimental de redução de danos. Sob a coordenação do psiquiatra Dartiu Xavier, o grupo foi tratado com maconha. Daquele total, 68% trocou o crack pela maconha. Ao final de três anos, todos os que fizeram a troca não usavam mais qualquer droga (nem o crack, nem a maconha). Anotem aí: todos.

Imaginei que, com a divulgação destes resultados por Gilberto Dimenstein, na Folha de S. Paulo em 24 de maio, haveria grande interesse sobre o estudo. Nada. A resposta ao mais impressionante resultado de superação da dependência de crack no Brasil foi o silêncio. O uso medicinal da maconha tem sido admitido em dezenas de países, inclusive nos EUA. Por aqui, o tema segue interditado pela irracionalidade. É evidente que o consumo de maconha pode produzir efeitos danosos. Sabe-se que o abuso pode conduzir o usuário a problemas de concentração e memória e que em determinadas pessoas o uso está correlacionado à precipitação de surtos esquizofrênicos. Daí a criminalizar seu consumo e impedir experiências destinadas ao uso medicinal vai uma distância que tende a ser percorrida pela intolerância e pelo obscurantismo.

O psicofarmacologista Eduardo Carlini sustenta que o princípio ativo da maconha pode ser útil no combate à depressão e ao estresse. O mesmo tem sido dito por cientistas quanto ao tratamento do glaucoma, da rigidez muscular causado pela esclerose múltipla, ou como apoio aos pacientes com Aids, aos que sofrem do mal de Parkinson e aos que se submetem à quimioterapia em casos de câncer. Estudo da USP com pacientes que ingeriram cápsulas de canabidiol, um dos compostos encontrados na erva, demonstrou resultados positivos no tratamento da fobia social e na redução da ansiedade.

As oportunidades abertas por estudos do tipo, entretanto, assim como a necessária pesquisa, estão impugnadas no Brasil por um discurso preconceituoso e por uma legislação ineficiente e estúpida. Seguimos repetindo que a maconha é “a porta de entrada” para o consumo de drogas mais pesadas, o que pode traduzir tão-somente uma “falácia ecológica” (quando se deduz erroneamente a partir de características agregadas de um grupo), vez que o universo de consumidores de maconha é muitas vezes superior ao grupo dos dependentes de drogas pesadas que se iniciaram pela cannabis. Em outras palavras: é possível que a maconha seja mais amplamente uma opção alternativa às drogas pesadas e não uma droga de passagem. Independentemente disto, é possível que a maconha seja uma porta de saída para a dependência química por drogas pesadas. O que, se confirmado, será uma ótima notícia.

marcos@rolim.com.br
*Jornalista

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trabalhar com computador engorda

Pesquisa demonstra que o papel do Profissional de Educação Física é cada vez mais importante na Sociedade da Informação. Em matéria publicada no site do jornal O Dia, um estudo revela que tela nos incentiva a comer besteiras como bolos, chocolates e biscoitos. Os pesquisadores,da Universidade de Copenhagen, acreditam que o estresse mental proporcionado pelo trabalho no computador desencadeia mudanças no nível de açúcar e hormônios que enganam o cérebro e nos fazem pensar que já está na hora de repor calorias. Jogar e assistir TV também têm o mesmo efeito. Para Jean Phillipe Chaput, os trabalhadores que usam computadores poderiam sair algumas vezes da frente da tela, para relaxar, podendo até digitar um pouco em pé. Dr. Chaput, autor do estudo, começou a investigar o assunto depois de notar a rotina do seu supervisor que regularmente comia biscoitos de chocolate enquanto estava no computador. A pesquisa envolveu 90 estudantes do sexo feminino. Chaput pediu para que...

Equipe de Jiu-Jitsu Ferri/Equilibrium conquista mais medalhas

No último domingo, aconteceu em São Leopoldo a 4ª Copa Vale dos Sinos de Jiu Jitsu. Mais de 400 competidores de várias cidades do Rio Grande do sul participaram deste evento que já é referência da modalidade no Estado. Osório foi representada por atletas da equipe Ferri/Equilibrium que voltou com várias medalhas do Complexo Esportivo da Wellness. A equipe coordenada pelo Professor César Augusto Ferri contou com o apoio do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) do Litoral da Brigada Militar. Ferri é faixa marrom e treina seus alunos na Academia Equilibrium, nas Segundas (20h30min) e nas sextas (20h). Resultado 3ª Copa Vale dos Sinos de Jiu Jitsu: Gabriel Ferri - 2º lugar - Infantil - Faixa Amarela Paulo Lessa - 2º lugar - Faixa Branca Master Debrahi Mêdola - 3º lugar - Faixa Roxa. Paulo Juarez Júnior - 3º lugar - Faixa Branca Master